O uso da internet, redes sociais e outras tecnologias como ferramentas para acesso a serviços básicos e para a luta pela garantia de direitos já é uma realidade para muitas comunidades indígenas da Amazônia. Entretanto, quanto mais remoto o território, maior a dificuldade de acesso a estas ferramentas. Com o objetivo de justamente encurtar essas distâncias, 14 comunidades indígenas de Rondônia receberam um kit de internet via satélite de alta velocidade.
O Conexão Povos da Floresta é um projeto idealizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), tendo como facilitador o empreendedor social Tasso Azevedo, do MapBiomas. Em Rondônia, a chegada dos kits (antenas, modem e roteadores) nas aldeias é viabilizado por meio de parceria com a Associação de Defesa Etnoambietnal Kanindé, WWF-Brasil e Associações Indígenas.
Israel Vale, coordenador de Monitoramento e Proteção Territorial da Kanindé, explica que o primeiro passo para a implementação do projeto no estado foi promover a formação de membros das comunidades beneficiadas.
Ele conta que devido às longas distâncias e dificuldade de acesso às comunidades, um único técnico levaria pelo menos três meses para percorrer as 14 aldeias e completar as instalações.
“Foi aí que a gente usou a experiência da Kanindé em formação e propôs formar os próprios indígenas, de modo que eles retornassem aos seus territórios capacitados para fazer a instalação, a configuração e a manutenção básica dos equipamentos; e ainda repassar os conhecimentos para os demais, prezando pelo princípio da autonomia comunitária."
E assim foi feito. Durante três dias, representantes dos povos Oro Nao, Cabixi, Oro Win, Paiter Suruí, Jupaú, Amondawa, Tupari, Karo Arara e Ikolen Gavião participaram do curso de Treinamento e Instalação de Internet via Satélite no Centro de Cultura e Formação da Kanindé em Porto Velho.
Presidente da Associação Santo André do povo Oro Nao, do Território Pacaás Novos, Benjamim Oro Nao tratou logo de pôr os conhecimentos em prática assim que retornou a sua aldeia. Iniciou a instalação já no dia seguinte à sua chegada e, poucas horas depois, lá estava o equipamento em pleno funcionamento.
“Pensei que não ia conseguir. Tentamos uma, tentamos duas, e não tava ligando. Aí com a outra internet fizemos uma ligação de vídeo pro professor: ‘faz isso, faz aquilo’, aí eu aprendi com ele”, conta Benjamim.
Ele explica que agora, com uma internet mais rápida, os trabalhos da associação serão facilitados, uma vez que participar de reuniões e formações online antes eram uma dificuldade, devido a qualidade do sinal da internet antiga. O benefício também chega para os jovens, facilitando o acesso a cursos e mesmo o uso para pesquisas de trabalhos escolares, para o uso das redes sociais como ferramentas de denúncias e mobilizações do movimento indígena. Além disso, o monitoramento do território e o reporte de denúncias também será mais ágil.