Recentes queimadas no Pantanal Sul deixaram as araras-azuis em situação crítica, sem alimento suficiente para sua sobrevivência, o que ameaça a continuidade da espécie. Pesquisadores e ambientalistas têm sido forçados a suplementar a alimentação das aves, já que o fogo destruiu as palmeiras que forneciam seus frutos essenciais.
Quando as chamas avançam, a maioria das aves consegue escapar voando, mas isso não impede que os danos das queimadas as atinjam gravemente. Nos últimos meses, pelo menos 80% da área considerada como centro de reprodução das araras-azuis no Pantanal Sul foi queimada. Essa região está localizada na fazenda Caiman, em Miranda, Mato Grosso do Sul, e a devastação corresponde a mais de 42 mil hectares de área preservada.
A reprodução das araras-azuis ocorre principalmente entre julho e fevereiro, com pico de atividade entre agosto e outubro. Neste ano, o auge do fogo na fazenda Caiman coincidiu com o início do período reprodutivo, causando grande impacto.
"Os animais adultos conseguiram fugir, mas alguns ninhos naturais e artificiais foram atingidos. O problema maior, contudo, foi a queima das palmeiras que fornecem o principal alimento da espécie", relata a bióloga Neiva Guedes, fundadora do Instituto Arara-Azul.
As araras-azuis dependem de sementes de palmeiras, como acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata), para sua alimentação. A escassez desses alimentos fez com que pesquisadores buscassem frutos em outras localidades para suplementar a alimentação das aves.
“Precisamos coletar frutos em Campo Grande e em outras áreas e acreditamos que essa suplementação será necessária até que as palmeiras se recuperem, o que pode levar de um ano a um ano e meio”, explica Neiva.
No Pantanal Norte, as queimadas atingiram mais de 85% da Reserva São Francisco do Perigara, no Mato Grosso, um local preservado pela ONG Onçafari que funcionava como dormitório para cerca de mil araras-azuis até 2020. Ali, a suplementação de alimentos já ocorre há quatro anos e não há previsão de que a situação melhore.
Apesar das dificuldades, o trabalho de resgate e suplementação tem contado com apoio significativo.
"Fazendeiros cujas propriedades não foram afetadas pelo fogo têm nos fornecido sementes para ajudar na sobrevivência das araras", comenta Neiva, destacando a solidariedade da comunidade local.
Nos últimos dias, enquanto a equipe do Instituto trabalhava na manutenção dos ninhos, um ovo de arara-azul foi encontrado em processo de eclosão. É um sinal de esperança em meio aos desafios enfrentados para garantir a continuidade desta espécie ameaçada.
Mín. 23° Máx. 40°