A zona rural do país deve ganhar pelo menos mais quatro milhões de hectares com conexão de internet no próximo ano, especialmente no Centro-Oeste e nos estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas também com expectativa de crescimento no Sul.
Com 16 milhões de hectares conectados nos últimos quatro anos, a TIM prevê chegar a 20 milhões até o fim de 2024. A telefônica participa da associação ConectarAgro, um programa que envolve empresas –muitas delas concorrentes– com o objetivo de ampliar a conectividade no campo.
A conexão é essencial não somente para as pessoas se falarem, mas também para que as empresas consigam saber em tempo real dados de telemetria das máquinas agrícolas em operação, para o monitoramento de deslocamento da frota, para saber com precisão onde os drones estão e para monitorar informações meteorológicas, entre outros pontos.
Só que, como cerca de 70% da zona rural do país é desprovida de acesso à internet, propriedades rurais não conseguem utilizar todos os recursos disponíveis em suas máquinas.
Os 16 milhões de hectares já cobertos estão distribuídos em 676 municípios de 14 estados e, conforme Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT (internet das coisas, em inglês) e 5G da TIM Brasil, a área de crescimento prevista para 2024 se concentra em grandes propriedades rurais.
A empresa fechou um primeiro negócio no Paraná –também o primeiro na região Sul– com a Usina Dacalda, de Jacarezinho (cerca de 400 km de Curitiba), que produz etanol e açúcar e terá seus 9.000 hectares conectados.
"Eles [os novos negócios] estão pulverizados, principalmente nas regiões de culturas mais extensivas, como tem sido até hoje. Mato Grosso e Matopiba. Esse projeto do Paraná abriu um leque de oportunidades para empresas do estado, Rio Grande do Sul e Santa Catarina", diz o executivo.
A conexão utiliza uma antena 4G, que opera a frequência de 700 MHz. Essa frequência ficou disponível após o desligamento gradual do sinal da TV analógica no país e as fazendas passaram a ser conectadas por meio dela em 2019.
Além da TIM, estão na ConectarAgro Vivo, Nokia, Bayer, Trimble e fabricantes de máquinas agrícolas, como Case, New Holland, Massey Ferguson, Valtra e Fendt.
"Estamos numa região de altíssima produtividade, temos um solo com produção altíssima. São Paulo nós temos cana com cinco, seis cortes, e [no Paraná] estamos com cana de 15 cortes, produzindo três vezes mais", diz o diretor-presidente da Dacalda, José Luiz Mosca Junior.
"O grande desafio nosso é que estamos numa região que não é iluminada por nenhuma operadora de telefonia", afirma.
Segundo ele, as dificuldades devido à falta de operadores são frequentes no dia a dia. "Vou assinar um contrato e, nos contratos novos que vemos na internet, recebo um token via SMS. Tenho de fazer toda uma logística, para minha secretária pegar meu celular, correr num lugar que dá um sinalzinho pequeno, recebo o SMS, dou ok, uma coisa que parece tão simples para quem está numa área na cidade, ou numa região iluminada, para nós torna-se um desafio e uma logística imensa de como operacionalizar isso", diz.
Mosca Junior afirma que a conectividade vai permitir o monitoramento de veículos, máquinas e implementos agrícolas, com dados de consumo de combustível e tempo em que o veículo ficou parado. "Sem sinal, como se faz a gestão em tempo real?", questiona.
O sistema deverá iniciar as operações em fevereiro. Será instalada uma torre de telefonia na área da usina, que emprega 850 funcionários. Como o sinal é aberto, 170 propriedades rurais do entorno serão beneficiadas.
Há outras iniciativas fora da associação com a proposta de ampliar a rede de conexão no campo.
A Claro, por exemplo, desenvolve com a John Deere, outra gigante fabricante de máquinas, e a startup Sol um programa batizado de Campo Conectado.
O projeto já atingiu mais de 4 milhões de hectares com cobertura 3G/4G no país e tem outros 3 milhões previstos. As empresas investem na instalação das torres e o produtor paga pelo uso do serviço, com prazo de fidelização.
Segundo a ConectarAgro, agricultores podem economizar até 15% nos custos usando ferramentas digitais como sistemas de pulverização e irrigação inteligentes (Folha, 23/12/23)
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