
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) realizou, nesta sexta-feira (12), sessão especial, no Plenário das Deliberações Deputado Renê Barbour, para homenagear os 50 anos de descolonização dos países africanos de Língua Portuguesa: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, e reforçou o compromisso do Parlamento com a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo.
Proposta pelo deputado Lúdio Cabral (PT), a homenagem integrou o calendário de celebrações do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. A solenidade reuniu autoridades, lideranças comunitárias, representantes de movimentos sociais e estudantes africanos, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que receberam Moções de Aplauso como reconhecimento à contribuição acadêmica e cultural para Mato Grosso.
Para o deputado Lúdio Cabral, o ato simboliza um gesto de reparação e memória histórica.
“O planeta tem uma dívida histórica com os povos africanos e com a população negra. Celebrar 50 anos da descolonização desses países e homenagear seus estudantes aqui na Assembleia Legislativa é reconhecer essa história e reforçar nosso compromisso com a igualdade racial, a justiça social e o Dia Nacional de Zumbi. É um gesto necessário e simbólico, que lembra ao Brasil que somos um país profundamente marcado pela herança africana”, afirmou Lúdio.
A sessão destacou as datas de independência das nações africanas lusófonas, todas conquistadas na década de 1970, em meio a fortes movimentos de resistência ao colonialismo europeu. O resgate desse marco histórico ganhou força ao ser representado por jovens que hoje constroem suas trajetórias acadêmicas em Mato Grosso. Entre eles, alunos da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique que desenvolvem pesquisas em áreas como física ambiental, ciências econômicas, antropologia, enfermagem e direito.
Natural de Guiné-Bissau, a professora Lídia Dju, homenageada durante o evento, se emocionou ao relembrar sua trajetória e a importância do acolhimento.
“O Brasil se tornou minha segunda casa desde 2009, quando cheguei para estudar na UFMT. Aqui fui acolhida, construí minha vida na educação e encontrei um espaço para fortalecer o diálogo entre África e Brasil. Ser reconhecida hoje mostra que nossa presença tem valor e aproxima ainda mais nossas culturas”, destacou.
A solenidade também homenageou personalidades históricas que marcaram a resistência negra em Mato Grosso, como Tereza de Benguela, Mãe Bonifácia, Jejé de Oyá e Maria dos Santos Silva, mãe de Adileu Santos Nascimento, o adolescente Baby, assassinado em 1998 no Beco do Candeeiro.
Representando o movimento social, o presidente do Instituto Cultural das Etnias Ciganas de Mato Grosso e conselheiro nacional da Igualdade Racial, Marcos Gattass, destacou a necessidade de ampliar políticas públicas voltadas à população negra.
“A reparação passa por garantir equidade. A população negra ainda precisa de políticas que assegurem oportunidades reais e isso inclui avanços em educação, saúde, cotas e territórios tradicionais. A luta é diária, e eventos como este mostram que seguimos avançando”, afirmou.
Entre as vozes das comunidades tradicionais, a quilombola Terezinha Valéria da Silva, do Quilombo Mata Cavalo de Cima, reforçou a relevância do reconhecimento institucional.
“Para nós, mulheres quilombolas, esse reconhecimento é fundamental. Ele dá visibilidade às nossas comunidades e fortalece a luta por políticas públicas essenciais para que possamos viver com dignidade em nossos territórios”, disse.
De acordo com Lúdio Cabral, a sessão reforçou o papel do Parlamento estadual como espaço de defesa da diversidade, da memória histórica e da inclusão social, reafirmando o compromisso com a promoção dos direitos humanos para uma sociedade mais justa, igualitária e plural.