
A Secretaria Municipal de Cultura abriu espaço para receber a exposição “Aproveitando o Lixo em Artes em Evidência”, do artista plástico Osmar Sanches. Com uma trajetória de 40 anos de trabalho, 167 exposições realizadas em vários estados brasileiros e também no exterior, como Portugal, Espanha, Oriente Médio, Itália e Estados Unidos, agora, pela primeira vez, ele expõe em Cuiabá. Diversas peças compõem a mostra, aberta ao público até o dia 12 deste mês, no Saguão da Secretaria, na Av. Barão de Melgaço.
“A minha história começou há quarenta anos, mas, na verdade, parece que ela nasceu comigo, muito antes de eu perceber. Sempre me pergunto: pintava telas desde o início? Ou era sempre assim? E a resposta é simples: eu pinto em tela, moldo em argila, transformo materiais deixados de lado. Meu trabalho é todo feito de reaproveitamento, de ressignificação. Dou vida ao que já foi descartado, porque o artista, quando olha, não vê apenas o objeto, vê o que ele pode ser”, relatou.
De fato, não importa a matéria-prima: restos de madeira, pedras, cabaça, vidros, cerno (madeira que vem rodando pelo rio) tudo ganha cor e se transforma em peças únicas quando o artista dá asas à imaginação.
Osmar considera ser um privilégio possuir essa visão diferenciada sobre as coisas. “Encontro uma pedra que lembra um rosto, um gesto, um bicho, e a transformo naquilo que o meu olhar revela, no que vejo, e trago para a evidência. Trago à luz o que já estava ali, só esperando ser percebido”, detalha.
Sua história também contabiliza trabalho no serviço público. Natural de Ponta Porã (MS), viveu décadas em Ji-Paraná (RO), onde foi diretor da Fundação Cultural de Ji-Paraná e diretor da Casa do Artesão, sagrando-se fundador e presidente da Associação dos Artesãos e Artistas Plásticos da cidade. Na época, exprimiu sua arte pintando muros de escolas e colorindo diversos espaços. Atuou também, por muito tempo, na Central Mãos de Minas, uma organização não governamental que apoia o crescimento do artesanato em Minas Gerais.
Também foi destaque na Primeira Mostra Cultural, Ciência e Tecnologia, tendo recebido o troféu de primeiro lugar com pintura em tela, na Granja do Torto. É reconhecido por diversos artistas e cantores nacionais, entre eles o cantor Daniel.
“Outras obras cruzaram fronteiras para diferentes países. Cada obra minha me empurrou um pouco mais para frente, porque a arte nunca anda sozinha, sempre tem alguém que apoia com a logística, com a palavra, com a presença, como agora faz a Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá, e eu sou muito grato pela oportunidade”, lembrou Osmar.
O secretário municipal de Cultura, Johnny Everson, apoiador das manifestações culturais nas diversas áreas, ressaltou a importância e o papel do poder público em fomentar iniciativas artísticas. “É com grande satisfação que reforço o compromisso da Secretaria Municipal de Cultura com todas as manifestações culturais que florescem em nossa cidade. A arte, em suas mais diversas expressões, é um instrumento de identidade, transformação e pertencimento. Por isso, entendemos que o poder público tem um papel fundamental em garantir que essas iniciativas tenham espaço, apoio e condições para se desenvolver. Seguiremos trabalhando para fortalecer nossos artistas, coletivos e produtores culturais, porque acreditamos que uma cidade só é verdadeiramente viva quando valoriza sua cultura e aqueles que a fazem acontecer”, destacou.
5 anos ausente
Apesar de tantas mostras exibidas, fazia cinco anos que o artista estava parado. Não por falta de vontade, mas, segundo ele, “porque às vezes a gente se guarda, se observa, se policia. Mas a oportunidade bateu à porta, e eu voltei. Aqui, em Cuiabá, é a primeira que faço em Mato Grosso, mesmo depois de já ter morado aqui. Curioso, né? Expor em tantos lugares como Rondônia, Brasília, Rio Branco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e, ainda assim, estrear agora no lugar que, de certa forma, também é meu. Aqui é meu lugar.”
Uma coisa não parou: dar asas à imaginação. E o resultado do trabalho é variado. “Vou à beira do rio, encontro uma madeira esquecida, um tronco torto, e já imagino o que ele pode vir a ser. Transformo, crio. Sou um caçador de formas, um lobo solitário, mas nunca sozinho. Porque a obra está dentro de mim, e eu estou dentro da obra. Ela é presença constante, chama diária. É como uma fome que não se sacia. Ela começa e recomeça, se renova e não acaba nunca”, disse o artista.