
Marcos Vicentti: esse nome dispensa apresentações. E, diante de tanta coisa linda que já foi escrita desde a partida dele, só me resta fazer um texto de gratidão e alegria. Gratidão por tudo o que ele representou para a fotografia, para seus amigos e família; por ter coração gigante e por sempre estar disposto a defender sua equipe — principalmente, as mulheres, seja dos colegas mais estressados ou em alguma situação de perigo nas pautas, pelos lugares mais diversos.
Neste texto, quero falar de alegria e deixar eternizados alguns momentos que passamos juntos. Tivemos dias marcantes, e eu nunca vou esquecer quando o levei ao Brás, em São Paulo, para comprar uma calça jeans.
Sim, depois de algumas agendas, nós tínhamos, às vezes, um tempinho de folga. Depois de andar boas horas, achei a calça que eu queria: toda rasgada, cheia de bolsos e com a boca desfiada. Eu me virei para ele e disse:
— Olha que linda!
Ele comentou, com seu jeito espontâneo característico:
— Nay, tu vai pra onde com isso? Essa calça é feia demais!
Eu só respondi:
— Tá bom, vou levar!
Alguns meses depois, fui nomeada secretária de Comunicação e precisava de uma foto com o governador para ilustrar a matéria da minha nomeação. Rapidamente liguei para ele e pedi:
— Marcão, me manda uma foto bem linda com o chefe pra ilustrar a matéria da nomeação!
Ele teve um ataque de riso e respondeu:
— Nay, a única que tem é aquela em que tu tá com aquela calça feia rasgada! Abarca ela mesmo!
E assim foi! Estampou as capas dos sites. Eu ri de vergonha, desespero e vergonha de novo!

Em certa ocasião, fomos chamados para acompanhar a delegação que faria a cobertura da COP26, em novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. Fomos ele e eu, com um passaporte e o sonho de mudar o mundo. Nós vivemos com intensidade aquele evento. Em plena pandemia, houve dias em que fizemos três testes de covid em menos de 24 horas. O nariz sangrava, no frio de 5 graus. Eu reclamava mais que bode na chuva, e ele só dizia:
— A gente tá sofrendo na Europa. Não reclama!
Tivemos que ficar no mesmo quarto, por conta do caos e dos preços absurdos das hospedagens. E assim passamos 15 dias. Ele, sempre respeitoso e educado de uma maneira incrível, como um pai que cuida de uma filha. Eu me sentia muito segura com ele.
Uma bela noite, já estava deitada quando ouvi de longe o Marcão numa ligação de vídeo com a esposa:
— Valéria, aqui é lindo! Fiz umas fotos na Buchanan Street, que é a avenida principal de Glasgow!
E a Valéria perguntou:
— Cadê a Nayara?
Ele virou a câmera para o meu lado, dizendo que eu estava dormindo. Eu estava toda embrulhada, dos pés à cabeça, num frio de 5 graus, com sensação térmica de nem sei quantos. Ela perguntou se estava frio. Ele respondeu:
— Siiimmm! — com bastante ênfase.
Ela então completou:
— E o que tu tá fazendo sem camisa nesse frio?
Eu já pensei: isso não vai dar certo! Eles desligaram e eu dei um pulo da cama:
— Marcão, seu doido! Tu é doido mesmo, né? O que tu tá fazendo ligando pra Valéria sem blusa?
Ele só se virou com a paciência e a calma de sempre:
— Eu estou com calor!
Encerrava-se, naquele momento, a minha tentativa de treta.
No momento em que escrevi este texto, relembrando essas memórias lindas, me veio um pensamento que quero compartilhar: será que o Marcos Vicentti um dia imaginou que refletiria tantas coisas boas?
Como eu sei que boa parte das pessoas que estão lendo este texto conheceu ou ouviu falar dele, penso que sabem a resposta. O Marcão era uma pessoa muito humilde para imaginar que teria seu nome em destaque em exposições, prêmios e homenagens. E tudo isso é um reconhecimento ao talento dele e à sua dedicação em retratar a vida com tanta delicadeza, fineza e sensibilidade.
Que jamais esqueçamos sua missão de ser voz daqueles que comumente não são ouvidos. Que não esqueçamos a essência do jornalismo, que é comunicar com ética, transparência e respeito. Era isso o que ele refletia.
Ele saiu da vida para entrar na história da fotografia. E a certeza que tenho é que seu flash nunca se apagará. Hoje ele brilha lá do alto!
E eu, que prometi escrever sobre alegria, já estou chorando.
Obrigada, Marcão. Te amaremos para sempre.
Nayara Lessa é secretária de Estado de Comunicação do Acre
The post Marcão: o flash que não se apagou! appeared first on Noticias do Acre .