
O ar vibra antes mesmo que ela apareça. Um apito longo corta o silêncio, crianças se aproximam correndo e os mais antigos respiram fundo, como quem reconhece um velho amigo. O cheiro de óleo queimado, o rangido das rodas de ferro e a brisa quente do Madeira compõem uma sinfonia que só quem vive Porto Velho entende. Quando a Locomotiva 18 finalmente entra em movimento, o Complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré se transforma em um cenário onde passado e presente caminham lado a lado.
Ensinamentos que Pietro já aprendeu com o pai. Apesar da pouca idade, ele chamou atenção pela maturidade, valorizando o patrimônio com um respeito que transcende gerações. “Foi emocionante, foi muito bom, porque é um patrimônio material aqui de Porto Velho. Eu achei muito emocionante. Com certeza, vou chamar meu pai para virmos nos próximos domingos”, reforçou Pietro.
Matteo, de apenas 8 anos, vivenciou algo totalmente novo: “Nunca vi um trem andando até hoje, eu estou muito feliz.”
Não apenas Arwen, mas todos os portovelhenses sonham com o dia em que o passeio de trem voltará a circular plenamente, e esse momento está cada vez mais próximo. “O prefeito quer, quanto antes, fazer com que o passeio de trem volte efetivamente. Enquanto isso, vamos saboreando essas exibições, que agora serão realizadas rotineiramente aos domingos, às 17h, aqui no complexo. Ano que vem, já começaremos a trabalhar no projeto de revitalização da Locomotiva 50 e do trajeto de 8 km até Santo Antônio, para que, daqui a um ano, esse passeio de trem possa voltar em toda a sua grandeza e emoção”, explicou o secretário Aleks Palitot.
Em meio ao apito da locomotiva, o prefeito deixou que a emoção falasse mais alto. Ao olhar para as pessoas presentes, fez uma pausa, como quem volta no tempo, e compartilhou um pedaço da própria história: “Eu tive a oportunidade de tantas e tantas vezes ir até a igrejinha, todo final de ano. Papai me trazia também aqui com minha família uma vez por ano, e mais essa da escola, isso é maravilhoso. Essa memória afetiva, a construção de laços com a nossa cidade traz identidade e senso de cuidado, de proteção e de propriedade. A cidade nos pertence e pertence a toda a população”, relembrou.
À medida que o sol se despedia atrás das margens do Madeira, a Locomotiva 18 seguia firme, cortando o tempo e despertando memórias. Entre risos de crianças, olhares emocionados e histórias que renascem a cada apito, Porto Velho reafirma sua relação profunda com a ferrovia que marcou sua origem. E assim, domingo após domingo, a Madeira-Mamoré volta a pulsar, lembrando a todos que preservar a memória é também manter viva a alma da cidade.
Texto:Françoíse Almeida
Fotos:José Carlos
Secretaria Municipal de Comunicação (Secom)