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Jovens identificam que racismo é marcador das desigualdades no DF

Eles participaram da pesquisa Mapa das Desigualdades

Redação
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
20/11/2025 às 08h32
Jovens identificam que racismo é marcador das desigualdades no DF
© Wilson Dias/Agência Brasil/Arquivo

“Desastre natural, racismo ambiental/ Sem orçamento pra comunidade tradicional/ Emergência climática de um racismo estrutural”.

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Os versos de rap de jovens que se identificaram como Pajé, Camila MC e Nerd do Gueto, de regiões periféricas do Distrito Federal (DF), fazem parte dos resultados de uma pesquisa intitulada Mapa das Desigualdades , que será divulgada no dia 10 de dezembro, data comemorativa dos Direitos Humanos.

A pesquisa composta por cruzamento de dados, gráficos, poesias e músicas é realizada por 30 jovens ativistas moradores de regiões vulneráveis da capital federal sob coordenação do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Eles identificaram que o racismo é um marcador das desigualdades em Brasília.

Os realizadores buscam visibilizar os contrastes em detalhes a respeito dos acessos a políticas públicas. Para identificar essas desigualdades, um ponto de partida é a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios. Ao observar os dados, foi possível perceber que as desigualdades são atravessadas por discriminação racial.

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Um exemplo está nas regiões vizinhas ao Lago Sul (bairro nobre de Brasília, de maioria branca) e Itapoã (comunidade pobre da capital que tem grande parte da população negra). Em termos de acesso, a população do Itapoã não tem serviços públicos básicos como creches e hospitais. O transporte é precário e há muitas localidades sem saneamento básico.

Jovens são impactados

O educador social Markão Aborígine, de 40 anos, do Inesc, que trabalha com os jovens na pesquisa, disse que o Mapa das Desigualdades tem o propósito de reunir jovens em torno desse tema, já que a infância, a adolescência e a juventude seriam os mais impactados pela desigualdade. “Praticamente 100% do Mapa foi construído por esses jovens desde fevereiro”, destacou.

“Esses jovens vivem, por exemplo, a falta de acesso a serviços públicos e de arborização nos territórios. Isso eles traduziram em música. São mais do que dados”.

Markão cita que no Plano Piloto de Brasília, por exemplo, 98% das pessoas têm acesso a praças e bosques. Enquanto que no Itapoã, apenas 34% das pessoas têm proximidade a esses espaços.

O educador diz que os jovens perceberam que as regiões mais negras do DF são vazias de políticas públicas. “Quando a gente olha para as regiões periféricas, a maioria da população é preta. A questão racial impacta todos os tópicos tratados na pesquisa”. Entre os temas, acessos à saúde, à educação, ao saneamento, à infraestrutura e à mobilidade humana, por exemplo.

O próprio educador social relata que a família, originária do município de Baraúna, na Paraíba, buscou a capital federal em busca de melhores condições de vida. “Quando chegamos à região administrativa de Samambaia não tínhamos energia elétrica nem água. Minha mãe caminhava alguns quilômetros para conseguir água no chafariz mais próximo”, recorda.

Transporte lotado

A falta de uma frota eficiente de transporte público, para um dos pesquisadores, o designer Victor Queiroz, de 27 anos, é uma das principais evidência de sofrimento. Morador do Paranoá, ele, que se identifica como negro, relata que costuma andar cerca de 30 minutos até o ponto de ônibus e esperar pelo menos outros 40 minutos pelo transporte. “É o mesmo ônibus que sai do Itapoã e vai para o Paranoá. Está sempre lotado”, lamenta.

Victor fez a diagramação e imagens do mapa que será divulgado no mês que vem. Para ele, a falta de acesso eficiente a esses serviços, com uma realidade de ônibus sempre lotados, desestimula os jovens e representa negação à dignidade.

“Brasília hoje é a terceira maior cidade do Brasil em termos de população. E até hoje a gente não tem um sistema de transporte público eficiente”, afirmou.

Regiões periféricas são prioridades, alega governo

Consultado pela reportagem da Agência Brasil , o governo do Distrito Federal reconhece haver um histórico de desigualdades. No entanto, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, a atual gestão tem ampliado os investimentos na área social.

O governo apresenta que há um plano distrital com estratégias relacionadas a buscar diminuir as desigualdades raciais com vistas à promoção da cidadania. “Todas as ações são acompanhadas pelo Conselho de Assistência Social do DF, assegurando controle social e participação cidadã na formulação e execução da política”, assegurou.

A secretaria afirma que prioriza os serviços para áreas periféricas, diferentemente do que os jovens avaliam. “Desde 2020, os recursos destinados à rede de proteção social quase triplicaram, passando de R$ 347 milhões para R$ 935 milhões em 2023, e seguem em evolução”, acrescentou o órgão.

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