
Para atrair a atenção dos estudantes e tornar o aprendizado mais leve e envolvente, vale apostar na criatividade. É por isso que, nos aulões de véspera realizados nas duas sextas-feiras que antecedem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os professores têm recorrido a metodologias irreverentes, que combinam conteúdo com acolhimento emocional, fundamentais em um dos momentos mais decisivos da vida escolar dos alunos.

O Programa Pré-Enem Legal tem se consolidado como uma das principais estratégias de preparação para o Enem entre os estudantes da rede pública do Acre. Neste ano, o projeto se destacou ao acertar o tema da redação do primeiro dia de provas, reforçando sua relevância e sintonia com os desafios do exame.
Além disso, um dos diferenciais do programa é a forma como transforma conteúdos complexos, como os de biologia, em paródias musicais criativas, que facilitam a memorização e tornam o estudo mais prazeroso. O resultado é um alto engajamento dos alunos, que encontram nos aulões não apenas uma revisão de conteúdos, mas também momentos de descontração e motivação.

Professor há três décadas, Mábio Castro garante que não tem vocação para a música, mas foi justamente nela que encontrou um método eficaz para ensinar biologia. Com paródias criativas, cantadas em ritmo duvidoso e cheias de bom humor, ele conquista os alunos, provoca gargalhadas e, acima de tudo, garante que o conteúdo fique na memória.
“Pela nossa vivência em sala de aula, a gente percebe que, principalmente em biologia, os alunos têm muita dificuldade para assimilar os conceitos. Os nomes são complicados, muitas vezes não têm nenhuma ligação com o cotidiano deles. Por isso, usamos recursos mnemônicos, porque a biologia precisa ser assim. Caso contrário, fica ainda mais difícil entender a nomenclatura e as funções de tudo que envolve a disciplina”, explica.

A técnica que ele utiliza tem raízes na infância, quando percebeu que muitas músicas permaneciam vivas em sua memória. Foi aí que enxergou na música uma ferramenta poderosa para transformar o ensino em algo mais acessível e duradouro.
“A música tem esse poder: ela gruda na cabeça. A gente lembra de músicas da infância com facilidade. Então, quando você consegue associar uma melodia a um conteúdo, o aprendizado se torna muito mais leve e duradouro.”

E ele não faz isso sozinho. Castro faz questão de envolver os alunos no processo, criando as paródias em conjunto com eles. Essa troca de ideias não só estimula a participação, como também aprofunda o entendimento dos conteúdos, já que os estudantes precisam dominar os temas para transformar informação em música.
“Tudo começou com os próprios alunos criando algumas paródias. A gente entrava no ritmo deles, literalmente. Eles faziam versões em vários estilos musicais, e isso se tornou um recurso valioso dentro da sala de aula. Para o professor, é uma ferramenta excelente, porque ajuda a conectar o conteúdo com a realidade do aluno. E mais do que isso, o conhecimento acaba ficando mais enraizado, mais significativo”, completa.
No aulão de véspera, para ele, o foco tem sido tranquilizar os estudantes. “O que a gente tem pedido é: peguem seus cadernos, abram as anotações feitas ao longo de todo esse processo, nos aulões, nas lives, nas aulas do dia a dia. Tudo isso faz parte da trajetória de vocês. O conteúdo já foi assimilado. Agora é só relembrar e manter a tranquilidade. Vai dar certo.”

O tema da redação do Enem deste ano, “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, surpreendeu muitos candidatos, mas não os alunos do Pré-Enem Legal. Graças à abordagem precisa do professor de língua portuguesa e redação, Pedro Henrique Pereira, que antecipou o assunto nas aulas preparatórias, os estudantes conseguiram desenvolver seus textos com segurança e tranquilidade.
“A ideia de trabalhar o etarismo esteve presente desde o início do ano. No nosso primeiro SimulaEnem, um simulado que aplicamos em todas as escolas da rede, o tema da redação foi exatamente esse: o preconceito contra pessoas idosas.”
Segundo Pedro, a estratégia do Pré-Enem Legal é preparar os alunos não apenas para escrever bem, mas para entender o contexto da prova.
“A aula de redação não é sobre gramática. É sobre estudar a prova. A gente analisa as aplicações anteriores, observa os padrões. Desde 2015, todos os temas foram sociais. E nos últimos três anos, todos trataram de minorias desvalorizadas. Os idosos ainda não tinham sido foco. Era uma questão social evidente, e tudo indicava que poderia aparecer.”
Além do simulado, o projeto promoveu uma semana de entrevistas e dicas sobre repertórios possíveis. Pedro Henrique lembra que até o vocabulário usado na proposta oficial foi antecipado nas aulas.
“Muitos alunos se assustaram com a palavra ‘perspectivas’. Mas quem teve aula com a gente já estava preparado. Trabalhamos palavras-chave como ‘caminhos’, ‘desafios’, ‘enfrentamento’. Mesmo que o tema fosse outro, eles saberiam como argumentar.”

O professor também destaca o impacto da preparação na autoestima dos estudantes da rede pública.
“Nosso objetivo é garantir que todos tenham acesso a um conteúdo de qualidade. Sabemos que os cursinhos particulares têm mais estrutura, mas queremos equiparar as oportunidades. Alunos de Marechal Thaumaturgo, Rodrigues Alves, Porto Walter, todos merecem a mesma chance.”
Para Pedro, a educação não é mágica, mas é transformadora para aqueles que sonham em atingir um objetivo.
“A educação não é uma fada madrinha. Ela não muda tudo de um dia para o outro. Mas ela mostra ao aluno que existe uma possibilidade. Muitos nunca tiveram ninguém na família que foi à universidade. Poder ser o primeiro já é mais do que suficiente”, completa.
O coordenador do Pré-Enem Legal, Humberto Miranda, destacou o alcance e o impacto dos aulões de véspera realizados pelo projeto, que atende a demanda presencialmente e, também, virtualmente.
“Nesses dois dias de aulão presencial, atendemos cerca de 300 alunos. Mas, se somarmos as visualizações e participações ao vivo, ultrapassamos mil estudantes só na primeira aula”, afirmou.
Segundo ele, o projeto tem conseguido envolver alunos de 10 a 12 escolas por encontro, incluindo seis unidades que acompanharam as aulas remotamente, com estudantes interagindo pelo chat e enviando perguntas em tempo real.

Humberto também ressaltou a presença de escolas rurais, como as de Rodrigues Alves e Assis Brasil, que participaram ativamente da programação. “Cada escola tem, em média, de 150 a 200 alunos acompanhando. É uma rede de apoio que se estende por todo o estado”, explicou.
Além da revisão de conteúdo, os aulões têm como objetivo acolher os estudantes e ajudá-los a controlar a ansiedade antes da prova. Humberto reforça que muitos alunos chegam ao Enem sem experiência anterior como treineiros, e por isso o projeto oferece orientações práticas sobre como se portar durante as cinco horas e meia de exame.
“A gente fala sobre alimentação, respiração, estratégias de foco. Tem aluno que leva um banquete para a prova, e isso pode atrapalhar. A ideia é orientar para que eles estejam tranquilos e preparados”, disse.
Ele também destacou a importância do sábado anterior à prova como um momento de descanso e leveza. “Recomendamos que eles façam algo que gostem muito, que tenham um sábado leve, para chegarem no domingo mais relaxados e confiantes.”

O estudante Antônio Carlos Gadelha, de 17 anos, avaliou a primeira prova do Enem como desafiadora, especialmente por conta de conteúdos que não estavam frescos na memória.
“A primeira prova foi um pouco complicada, porque são coisas que a gente não estuda há muito tempo. Esse ano foi meio corrido na escola, teve muita coisa acontecendo”, contou.
Apesar das dificuldades, ele destacou o papel do projeto Pré-Enem Legal na sua preparação. “Essas aulas ajudaram bastante. Trouxeram conteúdos e conseguimos aprender rápido, com macetes e dicas que facilitaram muito.”
Com a segunda etapa do exame se aproximando, Antônio está mais confiante. “Acho que vai ser um pouco mais fácil, porque é a parte de matemática e exatas, que eu gosto mais. ”Mesmo com afinidade pelas ciências exatas, seu objetivo profissional está em outra área. “Pretendo fazer medicina veterinária. Gosto bastante.”
Sobre as metodologias diferenciadas adotadas pelos professores, como o uso de paródias musicais nas aulas de biologia, Antônio acredita que elas fazem diferença.“É muito interessante. A música ajuda bastante a relembrar os conteúdos. Fica mais fácil de memorizar.”

Para Sylmara Carvalho, de 18 anos, a metodologia descontraída adotada pelo professor Mábio Castro nas aulas de biologia foi essencial para lidar com um conteúdo extenso e imprevisível. “Biologia é bem complexo. É um componente extenso, e muitas vezes a gente não sabe o que realmente vai cair na prova”, explicou.
Ela reconhece o valor de projetos como o Pré-Enem Legal, que extrapolam os limites da sala de aula tradicional. “É muito relevante trazer esse tipo de iniciativa para fora da sala, no auditório, com outros professores. Ajuda a gente a pensar de forma mais ampla, mais aberta.”
Sylmara também compartilhou como se sentiu antes da primeira prova e como os aulões ajudaram a reduzir a ansiedade. “Eu estava nervosa no primeiro dia, mas eles vieram com esse projeto e deram uma luz pra gente. Ajudaram a entender o que fazer.”
Com a segunda etapa se aproximando, ela mantém a esperança de alcançar seus objetivos. “Espero que com esse aulão de véspera a gente consiga conquistar o que estamos buscando.”
Sobre o futuro, Sylmara já tem um plano definido. “Pretendo seguir enfermagem. É a área que eu quero.”
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