Idealizado e implantado inicialmente em Sena Madureira, o projeto Bem-me-Quer nasceu da solidariedade a mulheres vítimas de violência que buscavam atendimento policial. Em janeiro de 2021, a delegada Mariana Gomes identificou a alta demanda de casos envolvendo, além de mulheres, crianças e adolescentes em situação de violência. Foi criado então um novo modelo de acolhimento, que, com novas unidades, consolidou-se como referência no Acre e já inspira outros estados do país.
Os núcleos do projeto funcionam como uma extensão da Delegacia Especializada da Mulher (Deam) e da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima de Violência (Decave) da Polícia Civil do Acre (PCAC). Na capital e no interior, foram criadas salas planejadas para oferecer um ambiente humanizado, com cores, mobília e organização diferenciadas, permitindo que a vítima não se sinta em um espaço hostil. Além disso, policiais civis recebem treinamento especializado para prestar um atendimento mais empático, paciente e técnico.
Segundo a delegada, esse foi o grande diferencial do projeto. “Quando tomei posse em Sena Madureira, percebi de imediato a vulnerabilidade das vítimas e como elas não ficam a vontade no ambiente policial. Por isso idealizei o Bem-me-Quer, criando a primeira sala em janeiro de 2021. A ideia sempre foi transformar a delegacia em um lugar de acolhimento, onde a vítima pudesse se sentir protegida e respeitada”, afirmou Mariana
Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus, Senador Guiomard, Tarauacá, Feijó e, mais recentemente, Rodrigues Alves já têm sua unidade do projeto. A meta é expandi-lo a todos os municípios acreanos.
Apenas em 2024, em Sena Madureira, foram registrados 405 boletins de ocorrência, 96 inquéritos e 220 flagrantes relacionados a crimes sensíveis. Cada caso registrado sob o protocolo do Bem-me-Quer representa acolhimento e fortalecimento da rede de proteção.
O projeto já recebeu diversos reconhecimentos. No Acre, é constantemente citado em discursos oficiais do governador Gladson Camelí e da vice-governadora Mailza Assis como exemplo de política pública eficaz. Nacionalmente, conquistou certificado no 1º Concurso de Boas Práticas em Prol das Mulheres Brasileiras, promovido pela Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ), em parceria com a professora Alice Bianchini; foi premiado no Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), figurando entre os dez melhores do país; e segue nas fases do Prêmio Innovare, que valoriza práticas inovadoras da Justiça brasileira.
Com o projeto-piloto instalado em Sena Madureira, a mudança foi sentida rapidamente pela população. A agente de Polícia Civil Thalita Chaves relata os efeitos práticos da iniciativa: “No começo, muitas mulheres chegavam desconfiadas. Com o tempo, passaram a ver a sala do Bem-me-Quer como um espaço seguro. Teve casos que até perguntavam se poderiam falar com a psicóloga, porque se sentiam mais à vontade conosco. Não era só registrar um boletim, era ouvir a dor, ter paciência e deixar que relatassem sua história sem pressa. Isso mudou o posicionamento das vítimas, que passaram a procurar a delegacia com confiança.”
O Bem-me-Quer também inspirou a dissertação de mestrado da própria delegada Mariana Gomes, aprovada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O estudo analisa os atendimentos policiais a vítimas vulneráveis no Acre, com o objetivo de subsidiar políticas públicas mais assertivas no enfrentamento à violência contra mulheres, crianças e adolescentes.
O sucesso no Acre já desperta interesse em outros estados. Delegadas de diferentes regiões entram em contato buscando informações sobre o funcionamento e documentos do projeto, avaliando sua implantação. “Seria um sonho ver o Bem-me-Quer funcionando em todo o país”, avalia Mariana Gomes.
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