O mercado de tênis “primeira linha”, réplicas de grandes marcas vendidas como versões de alta qualidade, tem crescido no Brasil. O apelo é compreensível: aparência semelhante ao original e preços muito abaixo do praticado pelas marcas oficiais. Mas por trás da economia imediata pode estar um risco silencioso para a saúde: o impacto na postura e na coluna.
Estudos de biomecânica mostram que cada passo gera uma carga significativa sobre as articulações. Durante a caminhada, o impacto no solo equivale a cerca de 1,2 a 1,5 vezes o peso corporal; na corrida, esse número sobe para 2 a 3 vezes o peso corporal (Hamill & Knutzen, 2015 – Biomechanical Basis of Human Movement).
Marcas esportivas investem em tecnologia de amortecimento e design ergonômico para reduzir esse impacto. Já nos tênis falsificados, a ausência de pesquisa e controle de qualidade resulta em palmilhas simples, solados irregulares e materiais sem propriedades de absorção. O resultado é uma sobrecarga maior nos tornozelos, joelhos e, principalmente, na lombar.
Profissionais que passam horas em pé, como professores, comerciários e trabalhadores da saúde, podem sentir dores crônicas mais cedo.
Praticantes de esportes têm maior risco de desenvolver problemas como fascite plantar, tendinites e hérnias de disco.
Atividades cotidianas, como longas caminhadas, já são suficientes para desencadear desconfortos quando o calçado não oferece o suporte adequado.
A American Podiatric Medical Association alerta que calçados de baixa qualidade estão entre as principais causas de dores musculoesqueléticas associadas aos pés e à coluna.
Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), o Brasil perdeu cerca de R$ 205 bilhões em 2023 devido ao mercado de produtos falsificados. Além da perda de arrecadação, esses produtos são frequentemente fabricados em condições precárias e, em muitos casos, financiados por organizações criminosas, segundo relatórios da Interpol.
A decisão de comprar um tênis réplica pode parecer vantajosa no curto prazo, mas traz riscos ocultos. Investir em marcas originais ou em fabricantes nacionais menores, porém regulamentados, não é apenas uma escolha de status: é uma medida de cuidado com a saúde e de contribuição para a economia formal.
No fim, a questão que fica é clara: vale a pena colocar a saúde da coluna e o futuro do país em risco em troca de uma economia imediata?