“Eu me sinto feliz quando posso fazer algo por alguém. Acolher uma criança é um gesto de amor que transforma não só a vida dela, mas a nossa também”. As palavras são de Nazaré Melo, aposentada e mãe acolhedora, que hoje dedica seus dias a cuidar de um bebê de apenas três meses. O pequeno chegou em seus braços direto da UTI, frágil, com marcas de uma luta precoce pela vida, mas encontrou em Nazaré, colo, proteção e afeto.
Receber um bebê tão pequeno e debilitado não foi simples. “No começo você não sabe o histórico, sofre junto com ele. Vem com sequelas, com dores, e a gente sofre também. Mas cada cuidado é uma vitória”, conta.
A adaptação exigiu mudanças na rotina. “Você para tudo para cuidar do bebê. Passa a viver a vida dele. As primeiras noites foram difíceis, muito choro e insegurança”.
Com apoio da equipe técnica da Secretaria Municipal de Inclusão e Assistência Social (Semias), Nazaré aprendeu os cuidados especiais que o bebê precisava. “A orientação deles é fundamental. Não estamos sozinhos, a equipe acompanha de perto. Isso dá segurança”, explica.
Outra história emocionante é a de Linda Cristina, funcionária pública, que decidiu abrir as portas de sua casa e do seu coração para três irmãos: uma menina de 14 anos e dois meninos, de 12 e 7 anos.
“Eu sempre tive o desejo de fazer o bem para alguém, especialmente para crianças praticamente invisíveis. Quando eles chegaram, foi uma surpresa. Acredito que foi propósito de Deus. Já havia acolhido uma criança antes, mas três irmãos foi um desafio e uma bênção ao mesmo tempo”, relata.
A adaptação não foi fácil. “As primeiras semanas foram uma loucura. Eles não tinham noção de família, de regra, de rotina. Eu precisei buscar estratégias. Com apoio da equipe, hoje estão 100% adaptados: escola, alimentação, passeios. O mais difícil foi ajudá-los a lidar com outras pessoas, porque eram retraídos, se sentiam excluídos. Aos poucos foram se abrindo”.
Manter os irmãos juntos também foi um desafio, já que os meninos brigavam muito. “Hoje estão diferentes. Aprenderam a respeitar e a conviver. Para isso, organizei quadros de regras e uma rotina bem definida. No começo resistiram, mas depois aceitaram. Agora têm horários, responsabilidades e vivem como uma família”.
Para Linda, a experiência é uma escola de solidariedade. “Ser família acolhedora não exige muito além de vontade de ajudar o próximo. Cuido sozinha, e mesmo assim vejo como é possível. Quem abre o coração descobre um mundo novo”.
APOIO COMPLETO
Segundo Poliana Miranda, diretora do Departamento de Proteção Social Especial (DPSE/Semias), o serviço garante apoio completo às famílias acolhedoras.
“O processo começa com o cadastro. A família interessada deve procurar a Semias. Lá oferecemos todas as informações necessárias. O acompanhamento é constante: temos equipe técnica, assistentes sociais, psicólogos e suporte 24 horas. As crianças também são acompanhadas e recebem todo o cuidado necessário”, explica.
Ela destaca que a comunidade pode participar de várias formas, mas que o maior gesto é se cadastrar como família acolhedora. “Antes, crianças em situação de abandono eram encaminhadas para instituições. Hoje, com o acolhimento familiar, elas são recebidas em lares cheios de afeto, até que sua situação seja definida pela Justiça”.
Poliana deixa um recado às famílias que pensam em se cadastrar: “Se você sente no coração esse chamado, venha conversar conosco. Muitas pessoas até se perguntam: por que não fiz isso antes? Ser família acolhedora é uma experiência que transforma vidas”.
As famílias interessadas em se cadastrar devem procurar a Secretaria Municipal de Inclusão e Assistência Social (Semias), localizada na av. Pinheiro Machado, 1718, bairro São Cristóvão, ou entrar em contato pelo telefone/WhatsApp (69) 98473-6021.
Ao se cadastrar, a família recebe toda a orientação necessária, acompanhamento contínuo e apoio da equipe técnica. O acolhimento é temporário, mas os laços de afeto que se constroem duram para sempre.
Texto:Jhon Silva
Foto:José Carlos
Secretaria Municipal de Comunicação (Secom)