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Locomotiva feita por alemães há quase 90 anos será restaurada em Porto Velho

Prefeitura vai recuperar a máquina para voltar a circular na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré

Redação
Por: Redação Fonte: Prefeitura de Porto Velho - RO
31/07/2025 às 13h28
Locomotiva feita por alemães há quase 90 anos será restaurada em Porto Velho
Foto: Reprodução/Prefeitura de Porto Velho - RO

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A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFM-M) comemora neste dia 1º de agosto 113 anos e ganha um novo e aguardado capítulo. De grande importância como patrimônio histórico e símbolo do surgimento de um povo que formou a capital de Rondônia no meio da selva amazônica, a Prefeitura de Porto Velho está empenhada em devolver à população a Locomotiva nº 18 (chamada de Barão do Rio Branco) da lendária ferrovia.

Porto Velho se desenvolveu a partir da EFM-M
Porto Velho se desenvolveu a partir da EFM-M
Registros históricos indicam que a máquina foi fabricada por uma empresa alemã em 1936, no início do século XX e colocada em circulação na EFM-M em 1950, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim por 366 quilômetros de trilhos, promovendo também a integração com as pequenas comunidades ao longo do trajeto.

“A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, conhecida mundialmente como uma das obras mais desafiadoras do século XX, foi construída entre trilhos de suor e superação. E podemos afirmar que a Locomotiva 18 foi testemunha dessa epopeia. Transportou cargas, conectou comunidades e fez ecoar por entre as matas o som do desenvolvimento em uma das regiões mais isoladas do Brasil, na época”, destacou o prefeito Léo Moraes.

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Apesar de não estar em circulação, a locomotiva, assim como as demais, simboliza força, resistência contra o abandono e o tempo. Ela tem grande relevância histórica e cultural para a capital rondoniense e até mesmo para o Brasil. Atualmente a máquina se encontra no complexo da Madeira-Mamoré em Porto Velho, passando por um processo de restauração que foi determinado pelo atual gestor do município.

Embora não tenha sido a primeira a circular na ferrovia, a Locomotiva 18 é uma das mais emblemáticas do acervo da EFM-M. Tanto quanto as outras que por aqui circularam, sua estrutura foi forjada para enfrentar os desafios da selva. Além disso, representa o espírito pioneiro que moveu a construção da ferrovia, dando início ao surgimento de Porto Velho e, posteriormente, do estado de Rondônia.

Léo Moraes destacou que a Locomotiva 18 fez parte do desenvolvimento de Porto Velho
Léo Moraes destacou que a Locomotiva 18 fez parte do desenvolvimento de Porto Velho
O titular da Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer (Semtel), Paulo Moraes Júnior, disse que o objetivo da Prefeitura de Porto Velho é entregar um turismo de experiência, tendo a locomotiva como atração principal e não somente para contemplação.

“Os caminhos até a execução e plena atividade dos passeios são longos, mas todos os meios legais estão andando internamente, respeitando o patrimônio histórico e com o trabalho técnico da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) a nosso favor. A memória da construção da nossa ferrovia é pulsante em nossa capital, por isso, queremos devolver ao porto-velhense o orgulho em pertencer a esta terra, bem como apresentar ao turista o que temos de melhor”, Acrescentou o secretário.

Quanto aos trâmites legais para a restauração da Locomotiva 18, Paulo Moraes disse que o processo já está na Procuradoria Geral do Município (PGM). “Paralelo isso, também estamos conversando com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/RO), que nos pediu algumas peças técnicas complementares, como o cronograma de trabalho e a identificação do restaurador responsável, todos já repassados pela ABPF para uma nova análise por parte do Iphan/RO”, completou.

TRANSPORTE DE BORRACHA

De acordo com registros históricos, máquina foi fabricada por uma empresa alemã em 1936
De acordo com registros históricos, máquina foi fabricada por uma empresa alemã em 1936
A ferrovia foi construída para escoar a produção de borracha, contornando trechos do Rio Madeira com cachoeiras e pedrais que dificultavam a navegação. O trecho total da ferrovia tinha 366 quilômetros. A grande obra ficou conhecida como "Ferrovia do Diabo", por causa dos muitos desafios durante sua construção, como as doenças tropicais e condições de trabalho precárias, resultando em um grande número de mortos.

O historiador e secretário executivo de Turismo, Aleks Palitot, pesquisa há muito tempo o passado rondoniense. Ele explica que a locomotiva tem relação direta com a colonização da cidade. Palitot gosta de destacar a imponência do maquinário que foi colocada no meio da Amazônia em um período onde a estrutura de logística era complexa.

“A locomotiva 18 é procedente da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina e fabricada pela empresa alemã L. Schwartzkopf em 1936. Sua bitola é de 1,00m e sua configuração de rodas é 2-8-2 e o seu diâmetro dos cilindros 55cm. Seu cumprimento é de 15,20m e recebeu o nome de locomotiva Barão do Rio Branco em homenagem ao diplomata brasileiro que convenceu o governo boliviano na assinatura do Tratado de Petrópolis que deu origem a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e o surgimento de Porto Velho”.

MEMÓRIA VALIOSA

Professor e historiador Célio Leandro
Professor e historiador Célio Leandro
Para o professor e historiador Célio Leandro, há uma grande expectativa e ansiedade não só da população em geral, mas especialmente por historiadores e professores pelo retorno da Locomotiva 18.

“Essa locomotiva desempenhou um papel crucial no transporte de cargas, como o látex, e também no turismo, sendo até hoje lembrada com carinho por sua história e impacto na região. O retorno da locomotiva é visto como a revitalização de uma memória valiosa”, diz o historiador.

Leandro ainda relembra o funcionamento da Locomotiva 18 no período de passeios turísticos durante os anos de 1980 e 1990, no trecho entre o complexo da EFM-M e a comunidade de Santo Antônio. “Há uma memória muito positiva da nossa sociedade sobre essa locomotiva. Ela não só serviu no auge da Madeira-Mamoré, transportando cargas e passageiros até Guajará-Mirim, mas também no período de lazer”, completou.

BARBADIANO

Lorde Brown trabalhou como foguista da lendária Locomotiva 18
Lorde Brown trabalhou como foguista da lendária Locomotiva 18
Com quase 60 anos dedicados à Madeira-Mamoré, Lorde Brown, hoje com 77 anos, trabalhou como foguista da lendária Locomotiva 18. Ele descreve com orgulho o papel essencial que exercia ao acender o fogo horas antes da partida do trem, garantindo que a máquina estivesse pronta para puxar os vagões com toda sua força e imponência.

“Eu morei aqui dentro”, diz emocionado, revelando o cuidado com que vigiava o patrimônio histórico para evitar furtos e preservar a memória de um tempo que ele nunca deixou para trás. Brown é descendente direto de ferroviários que vieram de Barbados (país insular soberano nas Pequenas Antilhas, na América Central, o mais oriental do Caribe), como seu avô Griffith Brown e seu pai, também ferroviário. A estrada de ferro está no seu sangue e na alma.

Lord reconhece a iniciativa da atual gestão municipal de restaurar a Locomotiva 18
Lord reconhece a iniciativa da atual gestão municipal de restaurar a Locomotiva 18
Lord reconhece a iniciativa da atual gestão municipal de restaurar a Locomotiva 18 e manter viva a história do complexo ferroviário. “Eu tenho o maior respeito por esse prefeito. Enquanto muitos só prometeram, ele está fazendo acontecer”, afirmou com firmeza e brilho nos olhos.

Para Brown, essa restauração não é apenas ferro e engrenagens, é memória, identidade e amor por um passado que moldou a cidade. “O meu sentimento não é só pela locomotiva, é pelo complexo todo”, comentou.

A sirene que ainda ressoa no local, para ele, é um símbolo solitário de um tempo glorioso. Mas agora, com a retomada do projeto, sente que a história está finalmente sendo respeitada e renascendo diante de seus olhos.

LITORINA

Antônio Moisés Cavalcante é condutor de litorina desde 1982
Antônio Moisés Cavalcante é condutor de litorina desde 1982
Filho de seringueiro, Antônio Moisés Cavalcante é mais do que um nome ligado à Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Ele também é parte viva dessa história, assim como Lord Brown. Condutor de litorina desde 1982, Moisés carrega na memória e no coração as lembranças de nomes e rostos que construíram o passado ferroviário de Rondônia com muita luta e sacrifício.

Natural de Santo Antônio, ele relembra com emoção os dias em que recebia a locomotiva lotada de passageiros, citando com carinho antigos companheiros de jornada, pelos quais carrega grande afeto e respeito.

Moisés relembra com emoção os dias em que recebia a locomotiva lotada de passageiros
Moisés relembra com emoção os dias em que recebia a locomotiva lotada de passageiros
Ao falar sobre a perspectiva da restauração da Locomotiva 18, demonstra um brilho todo especial no olhar. Para ele, o feito é mais do que um projeto, é o renascimento de um símbolo e da própria identidade da população de Porto Velho. “É muita emoção”, diz com a voz embargada, expressando a felicidade de ver a possibilidade de o trem voltar a percorrer parte dos trilhos novamente.

“Uma cidade e um estado que nasceu por causa de um trem, não ter o trem funcionando é quase um desrespeito com sua própria história”, afirma. Hoje, diante dessa esperança, Moisés sente-se realizado. Para ele e para muitos outros que trabalharam na EFM-M ou valorizam a sua importância histórica, o retorno do trem é como se fosse o reencontro com o que nunca deixou de ser parte essencial de Porto Velho, é a concretização de um sonho.

RESTAURAÇÃO

Consciente de sua importância cultural, histórica e turística, a Prefeitura de Porto Velho está mobilizando todos os esforços técnicos e institucionais para restaurar a Locomotiva 18 e permitir que ela volte a circular.

Prefeitura de Porto Velho está mobilizando todos os esforços para restaurar a Locomotiva 18
Prefeitura de Porto Velho está mobilizando todos os esforços para restaurar a Locomotiva 18
A ação integra um plano mais amplo com a revitalização do Complexo Madeira-Mamoré, visando preservar a memória ferroviária, impulsionar o turismo histórico da cidade e fortalecer o senso de pertencimento da população.

“A Locomotiva 18 é mais do que uma peça antiga; ela é parte viva da nossa história. Estamos determinados a vê-la novamente em movimento, representando o orgulho e a força do povo de Porto Velho”, afirmou o prefeito Léo Moraes.

A restauração está sendo conduzida por integrantes da equipe técnica da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). Em maio último, os profissionais deram início a mais uma fase dos procedimentos de vistoria e confecção de relatório para a viabilidade da reativação da lendária Locomotiva 18.

Missão ABPF é promover o resgate e a conservação do patrimônio histórico ferroviário brasileiro
Missão ABPF é promover o resgate e a conservação do patrimônio histórico ferroviário brasileiro
Os profissionais da ABPF foram mobilizados pela Prefeitura de Porto Velho, que busca todos os meios possíveis para o resgate desse patrimônio que faz parte diretamente da construção e evolução da capital rondoniense e de todo estado.

Depois de avaliarem a máquina por completo, o diretor-presidente da ABPF, Marlon Ilg, afirmou na ocasião que é possível restaurar a locomotiva, mas ele vai apresentar um relatório à Prefeitura indicando detalhadamente o que precisa ser feito para colocar o trem para andar novamente.

“Com essa iniciativa, a Prefeitura reafirma o compromisso com a preservação da memória local e o fortalecimento da identidade de Porto Velho, garantindo que símbolos como a Locomotiva 18 continuem inspirando gerações futuras”, finalizou Léo Moraes.

Texto:Augusto Soares
Foto:Arquivo EFM-M/ Leandro Morais/ André Oliveira

Secretaria Municipal de Comunicação (Secom)

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