As obras de construção de uma fábrica da montadora chinesa BYD em Camaçari, na região metropolitana de Salvador (BA), foram parcialmente interditadas nesta segunda-feira (23/12) após uma operação de fiscalização resgatar 163 trabalhadores mantidos em condições análogas à escravidão. A ação foi conduzida por uma força-tarefa composta por diversos órgãos federais, incluindo o Ministério Público do Trabalho (MPT-BA), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Polícia Federal (PF).
Os operários, estavam submetidos a alojamentos insalubres e condições de trabalho degradantes. Em um dos locais vistoriados, trabalhadores dormiam sem colchões, dividiam um único banheiro entre 31 pessoas e tinham alimentos armazenados próximos a materiais de construção e banheiros sujos.
No canteiro de obras, utilizado por aproximadamente 600 trabalhadores, foram identificados apenas oito banheiros químicos em péssimo estado, sem papel higiênico, água ou manutenção. Além disso, os operários estavam expostos ao sol intenso, apresentando sinais visíveis de danos à pele, e a jornadas extenuantes de 10 horas diárias, sem folgas regulares.
Outro ponto crítico da fiscalização foi a retenção de passaportes dos trabalhadores, a obrigatoriedade de pagamento de caução e a retenção de 60% dos salários em moeda chinesa. Os funcionários que desejassem rescindir o contrato enfrentariam dificuldades financeiras, perdendo parte de seus salários e tendo que arcar com os custos da passagem de volta, o que, na prática, os deixava sem recursos após meses de trabalho.
"Essas condições configuram não apenas desrespeito às leis trabalhistas brasileiras, mas uma grave violação de direitos humanos", afirmou o MPT-BA.
A fábrica da BYD está sendo construída no terreno da antiga fábrica da Ford, com um investimento superior a R$ 5,5 bilhões e apoio do governo.
Os alojamentos e áreas embargadas só serão liberados após regularização. Uma audiência está marcada para quinta-feira (26/12), quando o MPT e o MTE irão negociar com a BYD e a Jinjiang as condições necessárias para retomar as obras.